"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, julho 23, 2009

As profundezas da simplicidade


Gangaji


G: A Realidade é - não o que você pensa que é, não o que você imagina que é, e não é o que tem sido dito para você. Isto é, não é o que você acredita é, não é o que você desejaria que fosse, não é o que você teme que seja, - mas o que é simplesmente é. O que é, é , além do que pode ser pensado.

G: Para realizar o que é, uma implacável investigação é necessária, sobre o que é transitório e o que é imutável. Quando eu falo em implacabilidade, não quero significar luta ou esforço. Verdadeira implacabilidade é sem tensão. Tem que ser sem tensão. Uma disciplina que é relaxada e implacável é possível à todo momento. (Por conta da Realidade Absoluta, que é além de todas as coisas).

D: Eu tenho querido este tipo de disciplina.

G: Até querer é muito esforço. Querer é um pensamento, uma complicação, e um adiamento.

D: Muita gente diz que a iluminação é difícil.

G: O grande debate: É o acordar difícil ou fácil? Essa questão é similar ao debate: É o acordar gradual ou instantâneo? Em qualquer época há um grande debate, e o povo que está debatendo se mantêm ocupado. Por estarem ocupados, em lugar de justamente estarem aqui, estarem neste momento, o acordar é adiado. Esqueça difícil e fácil. Quem você é não é tocado por isso. Se não é difícil e nem fácil descobrir quem você é, se acordar é mais próximo que dificuldade ou facilidade, então para que?

G: Quem você é, está fora de medidas. Eu normalmente aponto para a facilidade de se acordar porque eu falo com muita gente que se pega a idéia de dificuldade. Se eu encontro alguém apegado a idéia de que é fácil...

D: Você dirá que é difícil.

G: Talvez, porque a solução é revelada quando há a quebra do apego a qualquer idéia. Quando a discussão interna cessa, a mente fica quieta. No silêncio, onde esta a facilidade ou a dificuldade?

D: Você tem falado que a dificuldade está na resistência em experimentar diretamente o que está surgindo.

G: Sim, eu tenho dito que o que faz qualquer coisa difícil é o seu 'não querer experimentar' totalmente o que é. O que faz qualquer coisa fácil é o seu querer experimentar totalmente todas as coisas.

G: O que eu aponto é imensamente simples. É mais imediato que a memória e mais próximo que a sua própria respiração. Pare de respirar e ainda está presente. Respire a respiração, e isto está presente. Esqueça tudo, e isto está presente. Relembre algo, e está presente. Boas experiências... presente. Más experiências... presente. Negando... presente. Afirmando... presente. Discussões sublimes... presente. Discussões mundanas... presente. Todos os sentimentos, sensações, pensamentos, emoções... presente. Sem sentimentos, sem sensações, sem pensamentos, sem emoções... presente.

Você vê como é simples? Você não está separado do seu verdadeiro ser. Diga me qualquer experiência que você percebeu onde a consciência não estava presente. Somente esse simples reconhecimento pode fazer acabar a habitual procura por você mesmo em algum outro lugar.

Quando a procura acaba, a revelação daquilo que tem sempre estado presente fica evidente. Isto não passa a estar presente ou cresce em presença, é simplesmente sempre presente.

D: Isto é muito simples para a minha mente entender.

G: Pare de procurar em sua mente por totalidade. Quando sua mente começa sua habitual agitação, trate essa agitação como um alarme do dharma, e relaxe. Você não encontrará você em sua mente. Sua mente está em você.

Acordar é experenciado como complicado somente porque você acredita profundamente que é revelado em complicação. Quando você está pronto para ser simples, você colocará de fora suas idéias. Você pára de cozinhar em complicação.

Se você tem levado uma vida complicada, comece direto pelo núcleo desta complicação, bem no centro, onde nada está acontecendo. Se você gostar do que se revelará neste centro, se você se sentir atraído pelo que é revelado, então traga todas as suas complicações para este centro. Talvez surjam complicações enormes, mas quando complicações encontram simplicidade, elas não podem se misturar. A complicação se dissolve. Complicação não pode vencer a verdadeira simplicidade. A simplicidade é muito profunda. Ela absorve todas as coisas. Complicação somente surge como subproduto de atividade mental. Simplicidade é uma emanação da verdade.

Eu sei que muita gente tem receio da simplicidade. Eles tem uma idéia ou uma imagem de que a simplicidade os levará a estupidez.

Simplicidade não é estupidez. Ela é profunda sabedoria.

Eu entendo o medo da simplicidade, mas esse medo somente continua se você o alimenta com mais complicações. Tudo o que é requerido é a sua prontidão para ficar quieto, para ser aquilo que você é em seu centro. Não quem você imagina que você é, não aquilo que dizem que você é. Qualquer nome é por demais complicado. Até a palavra “simples” é muito complicada, porque você pode ter alguma idéia do que simples significa, e qualquer idéia é muito complicado.

Reconheça a complicação de dar um nome, de pensar o passado, elaborar o futuro. Agora ponha de fora todos os nomes. Ponha-me de lado. Ponha-se de lado. Ponha de lado o tempo. Ponha complicação de lado. Ponha simplicidade de lado.

D: Você pode dizer algo sobre como viver em simplicidade?

G: O que é que você realmente quer? Não o que tem sido dito que você quer, e não o que você pensa que quer, mas o que você realmente quer?

D: Eu quero ser capaz de relaxar.

G: Maravilhoso. Então relaxe.

(risos)

G: Sim, isso mesmo! Facilmente, imediatamente. Rir é o melhor método de relaxamento. Ninguém tem que te ensinar como rir.

(mais risos)

G: Isto está perfeito! Essa é a perfeita, imediata yoga de relaxamento. Nesse relaxamento você realizou?

D: Eu senti uma abertura. Se eu justamente sempre saio disso eu perco isso?

G: A imagem ou pensamento de perder é uma tensão da mente. Obviamente, o tensionamento da mente é um hábito forte que vem sendo apoiado pela família, professores e cultura há um longo tempo. Quando este hábito aparecer, relaxe. Na abertura, não há limites. Tudo que se procura com um esforço da mente é encontrado na abertura da mente.

Este é um grande segredo, uma grande ironia. Toda busca, todo esforço, toda luta para encontrar seu verdadeiro ser, é naturalmente revelado na abertura, no simples relaxamento. Continue rindo. Não há tempo para complicar as coisas quando você esta rindo.

O relaxamento físico é muito agradável e, obviamente, se você está fisicamente relaxado há também algum relaxamento mental. Para um profundo relaxamento mental, reconheça que seguir um pensamento necessita de algum esforço, alguma atenção.

Não entre em transe, nem adormeça. Reconheça onde o sono profundo e a vigilância absoluta se encontram.

Usualmente em vigília nós estamos condicionados a seguir os pensamentos: esse é o tempo de planejar, tempo de lembrar de “mim” e “minha estória”; o que eu devo fazer; o que não devo fazer; e o que preciso fazer melhor.

Este dialogo é usualmente chamado de estado acordado. No estado do sono profundo, toda essa conversação cessa. Não há “mim”. Não há relacionamentos. Traga juntos a pura presença do sono profundo à absoluta vigília do estado acordado, e permita que a mente relaxe enquanto se mantém alerta. Para revelar o seu ser para o seu ser é necessário que não haja pensamentos, não haja nomes, não haja formas.

Eu estou apontando para a inteligência no seu máximo potencial, acordada para si mesma. Quando a atenção está livre e aberta, a mente não pode encobrir a Fonte.

D: Ontem, durante a meditação um pequeno click aconteceu. E os “meus” e “mim” e “minhas” todos desapareceram.

G:Um pequeno click? Este click é o fim do mundo.

D: Houve justo um relaxando acontecendo – sem fogo, sem explosão.

G: No centro do fogo, há um limpo e vazio espaço. Isto é paz. Este é o EU do fogo.

D: De algum modo parece tão simples.

G: Sim. O que é mais simples do que o claro centro do fogo? Isto é tão simples e ainda não há fim para as cores que surgem disto. Não há chama, não há queima, não há manifestação de fogo, não há forma de vida, sem aquilo que habita o centro de todas as coisas – a pura e simples presença do eterno ser.

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