"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, setembro 07, 2009

Relatos da Seicho-no-Ie sobre a Verdade - (fim)


Masaharu Taniguchi



Sra. Ishikawa(apresentando um senhor de idade) Este é meu pai.

Dr. Ogi – Eu estudei um pouco os livros de budismo, mas há quatro anos estudo a Christian Science, e até fui especialmente a Tóquio conhecer um professor dessa filosofia e pedir-lhe explicações. Como a sra. Eddy esclarece muito bem a Verdade do budismo apesar de seguir a filosofia cristã, acreditei que só seria possível ela escrever tais coisas por inspiração divina, e sempre que eu tinha tempo, lia Science and Health (Ciência e Saúde) da sra. Eddy. Recentemente fui informado sobre a Seicho-no-Ie e li o livro sagrado Seimei no Jisso, mas fiquei surpreso ao lê-lo, pois, por mais que a pessoa tenha profundo domínio da arte literária, não é possível escrever um texto daqueles, o qual, elucidando a Verdade de ordem religiosa com tanta fluidez, cativa e arrasta os leitores até o fim, sem deixá-los entediados. Acreditei que tais obras não poderiam ter sido escritas pela força humana, e que só poderiam ser por inspiração divina, assim como o livro da sra. Eddy, e estou lendo-o com muito interesse. Graças a isso, ultimamente estou podendo sair e participar de reuniões como esta. Mas pelo jeito a ilusão é muito profunda, pois ainda permanece a paralisia na mão, as pernas estão enfraquecidas pela idade, e a vista ainda está fraca.

Taniguchi – O senhor está com quantos anos?

Dr. Ogi – Já completei setenta anos.

Taniguchi – Ao meu pai adotivo faltam ainda dois anos para ele completar setenta anos; no entanto, dez anos atrás ele não conseguia ler livros sem a ajuda de óculos. Mas ultimamente, devido à minha influência, começou a ler a Seicho-no-Ie e o Seimei no Jisso. Gosta de vir à minha casa e participar da mesa-redonda ou ficar lendo livros. Um dia, ele estava certo de que tinha trazido os óculos, mas quando quis ler um livro, abriu o estojo, estava vazio; os óculos, que eram o mais importante, não estavam ali. “Ah, e agora? Assim não dá para ler o livro, e vou morrer de tédio”. Pensando assim, ele abriu o folheto da Seicho-no-Ie, e percebeu que conseguia as letras miúdas e até mesmo os “furigana” que as acompanhavam, coisa que há dez anos não conseguia fazer sem a ajuda de óculos. O meu pai adotivo tem sessenta e oito anos e é dois anos mais novo do que o senhor; mas, seja como for, enquanto lia o Seimei no Jisso, melhorou da vista sensivelmente.

Dr. Ogi – Como o senhor vê, ainda ando carregando óculos. Eu também gostaria de ser como ele.

Sra. Ishikawa – Este é o meu filho que quebrou a omoplata, de quem lhe falei outro dia. Graças a Deus, já está indo à escola normalmente, mas diz que ainda sente um pouco de dor quando mexe o braço. Para dizer a verdade, eu escrevi ao Mestre, mas, como não recebi a resposta, tinha ficado um tanto decepcionada.

Taniguchi – Oh, queira desculpar-me. Devido ao fato de ter-me ausentado durante cerca de dez dias em janeiro (período em que aconteceu toda história contada no vol. 5 da coleção ‘A Verdade da Vida’), o serviço acumulou-se, e não tive outro recurso senão sentar-me e orar por todos, em vez de escrever respostas. E como está ele?

Sra. Ishikawa – Quando o trouxeram da escola para casa de automóvel ele estava muito abatido devido às dores da fratura e, mesmo depois que o carro parou, continuava sentado e não conseguia descer.

Dr. Ogi – Eu pensei em pegá-lo nos braços e descê-lo, mas nesse instante lembrei-me de que minhas pernas eram fracas e pensei que se eu o pegasse nos braços, eu poderia cambalear. No fim acabei não ajudando-o. Fiquei preso ao físico e não pude ver o Jisso. Se eu visse o Jisso ileso dele e o Jisso perfeito das minhas próprias pernas, e o descesse do carro, obedecendo ao fluir natural da Vida, creio que osso dele ficaria curado no mesmo instante, e minhas pernas também não iriam cambalear, mas eu ainda não tinha conseguido atingir tal estágio.

Sra Ishikawa – O meu filho, como não conseguia descer, ficou mais de duas horas sentado na poltrona do carro. Mesmo assim, eu não o ajudei a descer do carro. Daí a pouco ele me pediu que o descesse, pois sentia vontade de urinar. Então, eu lhe disse: “Ou você desce sozinho, ou, se não consegue descer, faça aí dentro, sentado mesmo”. Então, ele saiu arrastando-se do carro e foi ao banheiro. Não dava para saber direito se a omoplata estava deslocada ou se estava quebrada, mas eu tinha a seguinte fé: qualquer que seja o aspecto manifestado no mundo fenomênico, isso é falso e não existe originariamente; se eu procurar ver o Jisso que já é perfeito, esse Jisso perfeito se manifestará, e a fratura ou o deslocamento, seja o que for, desaparecerá. Por isso, além de pedir ao Mestre que fizesse a mentalização à distância, eu lia para ele o livro sagrado a seu pedido, e orava fervorosamente. Eu tinha a convicção de que seguramente ele se restabeleceria em precisar de médico, mas aí as pessoas à nossa volta e as da escola começaram a criticar-me por não levar ao médico um filho com ferimento tão grave. Nesses casos, devo levá-lo ao médico? Ou é melhor permanecer firme, não o levando ao médico?

Taniguchi – Não há proibição no sentido de que não se deve levar o doente ao médico. Abolir “proibições” e “obrigatoriedades” é justamente a função da Seicho-no-Ie. Se a senhora ficar contemplando o Jisso, como projeção deste começarão a ocorrer no mundo fenomênico as coisas convenientes na devida ordem. Mesmo que leve ao médico, se este tomar providências corretas, esse fato será “projeção do Jisso”. Mesmo que não leve ao médico, mas se a senhora tomar providências erradas, esse fato será a “projeção da ilusão”. Ainda que na forma o ato de levá-lo ou não ao médico seja igual, haverá efeitos contrários, dependendo do “pensamento” com que se pratica esse ato: o pensamento do Jisso ou o pensamento da ilusão.

Sra. Ishikawa – Entendi muito bem. Nessa ocasião, eu levei meu filho ao médico para fazer um exame radiográfico, apenas como consideração aos que nos rodeiam. Disseram-me que não chegava a ser fratura, mas que o osso estava trincado. Depois disso não mais o levei ao médico e fazia somente o Shinsokan e a leitura do livro sagrado. Então, no terceiro dia, ele já pôde ir à escola. Quando o meu filho mais velho teve pleurite e esteve internado no Hospital da Universidade de Tóquio, em estado grave, eu, resoluta, tirei-o de lá, aboli os medicamentos e ele se curou; mas esse caso fora uma afecção interna. Desta vez, pude viver a experiência de que também os ferimentos externos podem ser curados sem o tratamento médico, e estou muito agradecida.

Taniguchi – É uma história de fé bastante profunda.

Sra. Ishikawa – Os conhecidos me elogiaram pelo fato de eu manter inabalável tanta fé na ocasião do ferimento do meu próprio filho, mas eu disse rindo que quebrar os ossos era uma coisa a que ele estava costumado (risos).

Kimura – Ouvi muitos casos de cura de doenças, mas em se tratando de problemas econômicos, acho que não é muito fácil ter os bolsos vazios e vermos o Jisso acreditando que a riqueza infinita já está dada a nós. E mesmo que contemplemos o Jisso e vejamo-nos como possuidores da riqueza infinita, não é de uma hora para outra que virá dinheiro em quantia infinita em nossos bolsos.

Taniguchi – Não é correto pensar em riqueza infinita como sendo apenas aquela que está em nosso nome. Se nos referirmos somente à riqueza que está em nosso nome, mesmo o milionário será um possuidor de riqueza limitada e não de riqueza infinita. Além disso, se possuirmos milhões e milhões de dólares no bolso quando não é preciso, essa riqueza só nos pesará e nos tolherá a liberdade. A verdadeira riqueza infinita não nos tolhe a liberdade, que existe para desenvolver a liberdade infinita; é aquela que, por mais que se gaste, vem manando infinitamente de acordo com a necessidade, como a água do poço que, por mais que se tire, jamais se esgota.

Kimura – Isso me parece ser riqueza infinita ao nível da teoria, e não a verdadeira riqueza infinita.

Taniguchi – Ainda que alguém seja milionário, se sua riqueza consiste em uma quantia determinada, ela diminui à medida que ele gasta. Mas para quem possui a verdadeira riqueza infinita, ela não diminui, por mais que se gaste, e continua surgindo infinitamente. Na Seicho-no-Ie se diz que a matéria não existe, que ela é “sombra da mente”. Já que originariamente a matéria não existe e é sombra da mente, ela pode aparecer, conforme a mente, tanto infinitamente como escassamente. Isso é um fato incontestável vivenciado por nossos adeptos. Portanto, aqueles que acham que, despertando para a Verdade de que a matéria é originariamente inexistente, o mundo fenomênico será totalmente negado e destruído, são os que só teorizam, e não os que compreenderam realmente a Verdade; são aqueles que argumentam por argumentar, e que teimam em fechar os olhos para o fato de o quanto essa Verdade, ao contrário, vivifica o mundo fenomênico.

Okabayashi – Será que poderia explicar-nos mais detalhadamente a questão do Jisso e do fenômeno? Talvez não adiante muito compreendermos apenas ao nível do raciocínio, mas, como isso é uma coisa fundamental...

Taniguchi – (apontando uma xícara cilíndrica) – Suponhamos que esta xícara é o Jisso, uma coisa perfeita, sem defeitos. Esta xícara tem existência real e inegável. Acontece que os nossos órgãos sensoriais não captam diretamente a existência desta xícara. Nós a vemos através da “lente do pensamento”, a lente que aqui está torna-se ora côncava, ora convexa, ora regular, ora irregular. Porém, seja qual for o tipo da lente (em outras palavras, seja correto ou ilusório o nosso pensamento), o Jisso que está aí (apontando a xícara) permanece perfeito e NÃO está deformado. Mas o que se vê do lado de cá da lente pode parecer ora deformado, ora elíptico. A “xícara deformada” – ou seja, a “xícara fenomênica” – não existe originariamente. Existe somente a “xícara-Jisso” perfeita. Existe somente o Jisso. Se tirar a “xícara-Jisso” dali, a xícara fenomênica que se enxerga do lado de cá da lente também desaparecerá. Portanto, o fenômeno é sombra do Jisso e ele em si não é uma existência independente. Podemos dizer que ele é uma imagem projetada pelo mundo do Jisso, ou que é um pseudo-prolongamento dele. Mas como o fenômeno não é existência real, não pode constituir uma parte do mundo do Jisso. Se trocarmos a “lente do pensamento” com outra que tem diferentes graus de refração, parecerá que a “xícara fenomênica” está em vários lugares: Ora parece estar aqui, ora parece estar lá, ou ainda, parece existirem três ou quatro delas. Portanto, mesmo que pareça haver inúmeras “xícaras fenomênicas” ou que ela se mostre deformada, na verdade tais xícaras não existem; o que existe é unicamente a “xícara-Jisso”. Pois bem, quanto menor o grau de refração da “lente do pensamento”, a forma que enxergamos através dela (isto é, a “xícara fenomênica”) mais se aproximará da forma perfeita da própria “xícara-Jisso”, e quando finalmente a lente deixar de ter grau de refração, a "xícara fenomênica” será exatamente igual à “xícara-Jisso”. Esse é o momento em que é feita a vontade de Deus assim na terra como no céu; é o momento em que o mundo fenomênico se torna tão harmonioso como o mundo do Jisso; é o momento em que o homem fenomênico coincide exatamente com o homem-Jisso; o fenômeno se identifica com o Jisso e se realiza o paraíso terrestre.

Morita – Poderia explicar mais minuciosamente a questão de que “a matéria é o nada”?

Taniguchi – Bem... O senhor precisa compreendê-la através da sua própria experiência. As argumentações teóricas só servirão para deixá-lo confuso.

Morita – O “nada” é a mesma coisa que o inesgotável?

Taniguchi – Nem sempre o “nada” significa inesgotável. Sendo originariamente “nada”, ele pode aparecer, segundo o pensamento, ora como algo limitado, ora como algo inesgotável.

Morita – Quero ouvir a explicação do “nada” no sentido do “nada inesgotável”

Taniguchi – “Nada inesgotável” – este é o slogan da seita Ittoen. Ele fundamenta-se na experiência vivida pelo sr. Tenko Nishida, segundo o qual, se o homem estiver com a mente despertada para a Verdade, por mais que ele consuma a matéria, esta não diminui; pelo contrário, aumenta. Antigamente o sr. Tenko trabalhava como fiscal dos operários na mina de carvão em Hokkaido. Nessa época, aos olhos do sr. Tenko parecia que todos os seres viviam roubando uns aos outros. E ele pensou: “Não suporto mais continuar levando uma vida de roubos como esta. Já que não posso viver sem roubar, prefiro não viver”. E assim, ele voltou a Omi, sua terra natal, e ficou uns três dias sem comer nada, sentado no interior de um quiosque que havia no recinto do Templo Ubusuna. Então, no terceiro dia, ouviu o choro de um bebê. Como ele estava faminto, logo fez uma associação mental e deduziu que aquele bebê estava com fome. Nisso, o choro cessou. “Ah, aquele bebê deve estar mamando agora no colo da mãe”, imaginou novamente. E ficou a meditar: “O leite materno, que é o alimento do bebê, ele o está roubando da mãe? Não, não estaria. A mãe também ficaria com os seios intumescidos e sofreria, se o bebê não sugasse o leite. Com isso beneficia tanto a mãe como a si próprio. Então, o alimento correto do homem deve ser como o leite materno. Mas, se por acaso o bebê não chorasse, a mãe poderia não saber que ele está com fome e não lhe daria de mamar. Então, o fato de o bebê chorar não é mau. Pois então eu também ‘vou chorar’. Vou chorar para o céu e para a terra. Talvez o Pai do céu e da terra me dê ‘o leite que não diminui por mais que eu tome’”. Pensando assim, ele se levantou e começou a andar cambaleante pela rua. Não estou dizendo que ele chorou de verdade como bebê. Andava como se reclamasse chorando da sua fome ao céu e à terra, no pensamento. Nisso, viu que no meio da rua havia um punhado de arroz, que alguém acabara de derramar. Nesse momento, ele percebeu: “Este arroz, sim, é o leite que o céu e a terra me deram. Se eu recolher esse arroz, não estarei roubando-o de ninguém. Ao contrário, estarei limpando a rua e valorizando o trabalho do agricultor que o produziu. Se eu o deixar abandonado aqui e os transeuntes pisarem sobre ele, aí sim, não estarei beneficiando ninguém. É comendo esse arroz que eu beneficio a mim e também aos outros, e isso não é, em absoluto, ‘roubar alguém’”. Assim, ele estava recolhendo o punhado de arroz, quando uma senhora passou com um balde de água na mão. Ele pediu à senhora que o deixasse lavar o arroz; aproveitando a ocasião, pediu emprestado também o fogão, fez duas tigelas de papas de arroz e comeu. Ele tomou emprestados a água e o fogão. Mas, como não os roubou, precisava pagar por eles. Em sinal de agradecimento, varreu a área e fez a limpeza do banheiro. Quando agradeceu e ia embora, a referida senhora interpelou: “Escute, se o senhor não tem emprego fixo, será que poderia trabalhar em meu estabelecimento?” E assim ele passou a trabalhar para essa senhora. Como trabalhava por gratidão, sua atitude perante o trabalho era positiva. Por isso, os outros empregados da casa foram aos poucos sendo influenciados. No fim do mês, a senhora chamou-o a um aposento à parte e agradeceu-lhe profundamente, dizendo: “Para dizer a verdade, desde que meu marido morreu e eu fiquei sozinha para dirigir o grande número de empregados, estes começaram a relaxar e eu já estava achando que esta casa não subsistiria, que em breve iria à falência. Porém, graças ao senhor, que veio para cá, a atitude deles em relação ao trabalho começou a mudar. Agora a casa está salva da falência. Sinto que o espírito do meu falecido marido está orientando o senhor e protegendo esta casa”. Nesse momento, o sr. Tenko pensou: “Esta é a vida correta. Eu comi nesta casa sem diminuir nada que há nela; ao contrário, aumentei os bens dela e salvei-a da falência. Vida em que não se rouba, vida que não se escasseia por mais que se coma – para viver tal vida, é melhor levar uma vida destituída de posse, como esta que estou levando”. E assim começou a vida do “nada”, a “vida em que não se rouba”, da Ittoen.

Na Seicho-no-Ie, o “nada” quer dizer “o estado natural”, o estado em que não há o artifício do ego. Abandonando o “artifício”, a pessoa sintoniza com o Jisso de provisão infinita do céu e da terra, e a provisão infinita surge espontaneamente no mundo fenomênico. A idéia de que a realidade do mundo dos seres vivos é de roubo mútuo, é um ponto de vista do ego. Enquanto mantivermos a imagem de roubo mútuo na mente, ela não desaparecerá também no mundo fenomênico. Quando acreditamos que o céu e a terra são o exclusivo mundo de provisão infinita de Deus (porque somente Deus existe!) e reduzimos o ponto de vista do ego ao “nada” (pois este não é capaz de Deus), manifestar-se-á a provisão infinita também no mundo fenomênico.


(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.05 -- págs. 195 à 206)


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