"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, março 11, 2010

Por que tal resistência a Deus?

Pergunta: Osho,

Percebi, na palestra de ontem, que estou resistindo à palavra “deus”. Meus pensamentos se voltam para um fato que ocorreu, há vários anos, quando eu estava cuidando de um homem muito doente num hospital – ele estava morrendo. Pediu-me que chamasse um padre, pois ele estava com medo. Quando o padre chegou, o homem doente lhe disse diretamente:

“Deus o amaldiçoe.”

E o padre se afastou, dizendo-me: “Não vale a pena fazer nada por este homem.” Eu disse ao padre: “Este homem está muito doente, e não sabe o que está dizendo.”

Mas o padre, assim mesmo, recusou-se a ajudá-lo. Desde esse dia, nunca mais fui a uma igreja. Sei que Deus está dentro de mim. Então, porque essa resistência? Por favor, ajude-me.




Reposta: A palavra “DEUS” não é Deus. A palavra “amor” não é amor. A palavra “fogo” não é fogo. Por isso, o mais importante é lembrar-se de não se apegar muito às palavras, não ficar muito obcecado com as palavras. As palavras são apenas símbolos indicativos: use-as, mas não se sinta muito oprimido por elas. Se a palavra “deus” lhe causa problemas, esqueça essa palavra. “Alá” também serve, ou “Rarn”, ou “X y Z” – escolha outra palavra, se esta provoca uma associação errada. Mas se você começar a criar uma resistência contra o próprio Deus, contra a própria verdade, apenas você será responsável e apenas você estará perdendo algo de imenso valor. Mas isso acontece. Nós usamos a linguagem; tornamo-nos tão obcecados com a linguagem, que nos esquecemos de que ela não é a realidade. Na verdade, tem-se que colocar a linguagem de lado para se ver a realidade. (...)


(...) Você diz: “Sei que Deus está dentro de mim.” Você não sabe, você não sabe absolutamente. Você ouviu dizer isso. Você me ouviu dizer, ouviu Jesus dizer “Deus está em você”, mas você não sabe absolutamente. Por que, uma vez que você sabe, não há problemas; sabendo que “Deus está em mim”, imediatamente Deus está fora também. No momento em que você perceber um único raio do divino penetrando em você, conhecerá tudo o que existe para ser conhecido. Conhecido o de dentro, o de fora é conhecido. Conhecido o de fora, este se torna conhecido dentro também – pois o de dentro e o de fora não são duas coisas separadas; são dois aspectos da mesma energia.

Assim, esse pensamento de que “Deus está dentro de mim” pode ser um outro truque de sua resistência, pois você não quer ver Deus fora. Você é contra isso, pois bem no fundo de sua mente você sente que, se Deus está lá, então você precisará de um mediador, precisará de alguém para guiá-lo até lá. Se Deus está fora, lá em cima no céu, então alguém será necessário para guiá-lo. Sozinho, você não será capaz de encontrá-lo. Então você diz:

Deus está dentro de mim” – assim não há necessidade do padre. Você está dizendo isso apenas para evitar o padre – mas você não sabe. Deus é tudo. A distinção entre o de fora e o de dentro é falsa. Dentro e fora são um; apenas uma realidade, de uma ponta a outra. Não são duas, não é dual, por isso não a divida.

Ouvi contar... Quando Xerxes estava na praia com sua armada, e olhou para o Helesponto, perguntou a si mesmo: “Como farei para meus homens atravessarem?” Ele ordenou a seus generais que construíssem uma ponte de barcos, e eles obedeceram. Mas uma tempestade veio e destroçou sua ponte. Num acesso de raiva violenta, ele ordenou a execução dos supervisores que dirigiram o trabalho. Mas isso não foi suficiente para satisfazê-lo, pois a sua raiva era grande, quase louca. Então ele ordenou a seus escravos que dessem trezentas chicotadas no mar.

Mas isso é uma tolice – trezentas chicotadas no mar. Mas é assim que a mente funciona; nossa mente é muito infantil. Você já reparou numa criança pequena? Se ela se machuca com uma porta ou um móvel, ela bate na porta ou no móvel, como se eles fosse o inimigo, como se eles tivessem feito alguma coisa a ela. Ela pode ter tropeçado, mas acha que a cadeira é responsável. E essa atitude infantil continua. As pessoas ficam senis, mas sua atitude infantil nunca muda.

No seu caso, um padre não se comportou bem, mas se você for um pouco razoável... Primeira coisa: se um padre não agiu bem, isto não significa que todos os padres estejam errados. Segunda coisa: foi o padre que não agiu bem, não Deus. Terceira coisa: você não sabe o que aconteceu àquele moribundo, no mais profundo do seu ser.

Não se apresse em tirar conclusões. Um homem sábio nunca conclui tão facilmente, pois todas as conclusões fazem Sua mente fechar-se. Você não sabe o suficiente; conclusões são perigosas. Uma conclusão só está certa quando você já conheceu tudo. Os homens mais sábios do mundo disseram que nada sabiam; como podemos nós concluir? E qualquer coisa que saiba-mos é tão pequena, tão ínfima… como se você tivesse lido apenas uma linha da Bíblia e, a partir dessa linha, concluísse alguma coisa. Seria tolice; não seria sábio.

Você pergunta: Então, por que essa resistência? Não penso que a resistência dependa do incidente. Na verdade, todo mundo é resistente em relação a Deus; as desculpas podem ser diferentes. Essa história é uma desculpa – porque não é razoável ficar resistente a Deus apenas por causa desse incidente. Por isso, deve ser uma desculpa. Você quis a resistência – essa história apenas lhe forneceu um argumento, uma desculpa.

Todo mundo é resistente em relação a Deus – por quê? Porque, se quiser conhecer Deus, você tem que desaparecer: essa é a resistência. Você tem que morrer para que Deus viva em você. Você tem que desaparecer completamente, totalmente; você tem que estar vazio, tem que esvaziar-se. Somente no seu vazio Deus pode descer; quando você está muito cheio ele não pode entrar. Sua taça está muito cheia de você mesmo; ela tem que ser esvaziada – esta é a resistência.

Não dê muita importância às desculpas – elas são insignificantes. O problema real se esconde por trás das desculpas. O problema real é: para se tornar religiosa, a pessoa tem que negar a si mesma – este é o único sacrifício necessário. O ego tem que ser abandonado. A mente tem que parar, para que Deus esteja presente – então, é claro que há resistência.

Por isso, esqueça esse incidente. Ele não tem nada a ver… Na verdade, é muito raro eu encontrar uma pessoa que não seja resistente, que não esteja, no fundo, lutando contra Deus. É natural; tente compreender. Queremos permanecer nós mesmos: Deus é o maior perigo. Por isso, as pessoas vão aos padres. Elas poderiam ir diretamente a Deus, mas vão ao padre – pois não querem realmente ir para Deus. O padre protege-as de Deus. Elas vão às escrituras, pois estas estão mortas, e não se pode encontrar um Deus vivo numa escritura. Essa é a maneira de esquivar-se.

As pessoas não vão a um Mestre vivo, porque ir a um Mestre vivo significa saltar no fogo. Você desaparece – mas somente através desse desaparecimento Deus aparece.

Ser realmente religioso é cometer suicídio. É isso mesmo que eu quero dizer – suicídio. Quando uma pessoa se mata, isto não é um suicídio; apenas o corpo muda – ela nascerá de novo. Isso é apenas uma mudança de corpo, uma mudança de roupas, de moradia. Mas quando um homem abandona o ego, ele comete um suicídio real, autêntico; agora ele não voltará mais. Agora não terá mais necessidade de outra moradia neste mundo de miséria, neste mundo de escuridão, neste mundo que é quase um inferno. Ele não voltará mais. Abandonado o ego, sua jornada está terminada; você terá aprendido a lição. Esta é a resistência.

Por isso, por favor esqueça essa desculpa. Do contrário, você continuará pensando nela – e esta não é a causa verdadeira.


Osho - A Divina Melodia

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