"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, agosto 17, 2010

Tempo: um conceito psicológico



Eckhart Tolle


Abandonando o tempo psicológico

Aprenda a usar o tempo nos aspectos práticos da sua vida – podemos chamar de “tempo do relógio” –, mas retorne imediatamente para perceber o momento presente, tão logo esses assuntos práticos tenham sido resolvidos. Assim, não haverá acúmulo do “tempo psicológico”, que é a identificação com o passado e a projeção compulsiva e contínua no futuro.

O tempo do relógio não diz respeito apenas a marcar um compromisso ou programar uma viagem. Inclui aprender com o passado, para não repetir os mesmos erros indefinidamente. Estabelecer objetivos e trabalhar para alcançá-los. Predizer o futuro através de padrões e leis, que podem ser físicas, matemáticas, etc. Aprender com o passado e adotar as ações apropriadas com base em nossos prognósticos.

Mas, mesmo aqui, no âmbito da vida prática, onde não podemos agir sem uma referência ao passado ou ao futuro, o momento presente permanece como um fator essencial, porque qualquer ação do passado é relevante e se aplica ao agora. E planejar ou trabalhar para atingir um determinado objetivo é feito agora.

O principal foco de atenção das pessoas i1uminadas é sempre o Agora, embora elas tenham uma noção relativa do tempo. Em outras palavras, continuam a usar o tempo do relógio, mas estão livres do tempo psicológico.

Esteja alerta quando praticar isso, para que você, sem querer, não transforme o tempo do relógio em tempo psicológico. Por exemplo, se você cometeu um erro no passado e só agora aprendeu com ele, está utilizando o tempo do relógio. Por outro lado, se você considerar isso mentalmente e daí resultar uma autocrítica, um sentimento de remorso ou de culpa, então você está transformando o erro em “meu”. Ele passou a ser uma parte do seu sentido de eu interior e se transformou em tempo psicológico, que está sempre relacionado a um falso sentido de identidade. A dificuldade em perdoar envolve, necessariamente, uma pesada carga de tempo psicológico.

Se estabelecemos um objetivo e trabalhamos para alcançá-lo, estamos empregando o tempo do relógio. Sabemos bem aonde queremos chegar, mas respeitamos e damos atenção total ao passo que estamos tomando neste momento. Se insistimos demais nesse objetivo, talvez porque estejamos em busca de felicidade, satisfação ou de um sentido mais completo do eu interior, deixamos de respeitar o Agora. E ele é reduzido a um mero degrau para o futuro, sem nenhum valor intrínseco. O tempo do relógio se transforma então em tempo psicológico. Nossa jornada deixa de ser uma aventura e passa a ser encarada como uma necessidade obsessiva de chegar, de possuir, de “conseguir”. Aí, não somos mais capazes de ver nem de sentir as flores pelo caminho, nem de perceber a beleza e o milagre da vida que se revela em tudo ao redor, como acontece quando estamos presentes no Agora.

Consigo ver a importância suprema do Agora, mas não posso concordar quando você diz que o tempo é uma completa ilusão.

Quando afirmo que “o tempo é uma ilusão”, não tenho intenção de fazer nenhuma afirmação filosófica. Estou apenas chamando a atenção para um fato simples, a1go tão óbvio que você pode achar difícil de entender e até mesmo considerar sem sentido. Mas perceber isso será como cortar com uma espada todas as camadas de “problemas” criadas pela mente. Repito que o momento presente é tudo o que temos. Nunca há um tempo em que a nossa vida não é “este momento”. Não é verdade?


A insanidade do tempo psicológico

Não teremos qualquer dúvida de que o tempo psicológico é uma doença mental se olharmos para as suas manifestações coletivas. Elas ocorrem, por exemplo, na forma de ideologias como o comunismo, o nacional-socialismo ou qualquer nacionalismo, ou de sistemas rígidos de crenças religiosas, que atuam na suposição implícita de que o bem maior repousa no futuro e que, portanto, o fim justifica os meios. O fim é uma idéia, um ponto na mente projetado no futuro, quando a salvação, sob a forma de felicidade, satisfação, igualdade, libertação, etc., será alcançada. Muitas vezes, os meios para atingir o fim são a escravidão, a tortura e o assassinato de pessoas no presente.

Por exemplo, estima-se que cerca de cinqüenta milhões de pessoas foram assassinadas para promover a causa do comunismo e levar a um “mundo melhor” na Rússia, na China e em outros países ! Esse é um exemplo terrível de como uma crença em um paraíso no futuro cria um inferno no presente. Resta alguma dúvida de que o tempo psicológico é uma doença mental séria e perigosa?

De que forma esse padrão mental opera em sua vida? Você está sempre tentando chegar a algum lugar além daquele onde você está? A maior parte do que você faz é apenas um meio para alcançar um determinado fim? A satisfação está sempre em outro lugar ou restrita a breves prazeres como sexo, comida, bebida e drogas, ou relacionada a uma emoção ou excitação? Você está sempre pensando em vir a ser, adquirir, alcançar ou, em vez disso, está à caça de novas emoções e prazeres? Você acha que, quanto mais bens adquirir, uma pessoa se sentirá melhor ou psicologicamente completa? Está à espera de um homem ou de uma mulher que dê um sentido à sua vida?

No estado normal de consciência, o poder e o infinito potencial criativo do Agora estão completamente encobertos pelo tempo psicológico. Nossa vida perde a vibração, o frescor, o sentido de encantamento. Os velhos padrões de pensamento, emoção, comportamento, reação e desejo são encenados repetidas vezes, como um roteiro dentro da nossa mente que nos dá uma identidade, mas distorce ou encobre a realidade do Agora. A mente, então, desenvolve uma obsessão pelo futuro, buscando fugir de um presente insatisfatório.


A negatividade e o sofrimento têm raízes no tempo

Mas acreditar que o futuro será melhor do que o presente nem sempre é uma ilusão. O presente pode ser terrível e as coisas podem melhorar no futuro, e muitas vezes melhoram.

O futuro, geralmente, é uma réplica do passado. É possível haver mudanças superficiais, mas as transformações reais são raras e dependem da possibilidade de estarmos presentes para dissolver o passado, acessando o poder do Agora. O que percebemos como futuro é uma parte intrínseca do nosso estado de consciência do momento. Se a nossa mente carrega um grande fardo do passado, vamos sentir isso. O passado se perpetua pela fa1ta de presença. O que dá forma ao futuro é a qualidade da nossa percepção do momento presente, e o futuro, é claro, só pode ser vivenciado como presente.

Podemos ganhar 10 milhões de reais, mas esse tipo de mudança é apenas superficial. Vamos simplesmente continuar a representar os mesmos padrões condicionados, em ambientes mais luxuosos. Os seres humanos aprenderam a dividir o átomo. Em vez de matar dez ou vinte pessoas com um porrete de madeira, uma pessoa agora pode matar um milhão delas com um simples apertar de um botão. Será que isso é uma mudança real?

Se é a qualidade da nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o que é que determina a qualidade da nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto, o único lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se dissolver é no Agora.

Toda a negatividade é causada pelo acúmulo de tempo psicológico e pela negação do presente. O desconforto, a ansiedade, a tensão, o estresse, a preocupação, todas essas formas de medo são causadas por excesso de futuro e pouca presença. A culpa, o arrependimento, o ressentimento, a injustiça, a tristeza, a amargura, todas as formas de incapacidade de perdão são causadas por excesso do passado e pouca presença.

Muitos acham difícil acreditar na possibilidade de existir um estado de consciência absolutamente livre de toda a negatividade. E até o momento, esse é o estado de liberdade para o qual apontam todos os ensinamentos espirituais. É a promessa da salvação, não em um futuro ilusório, mas bem aqui e agora.

Talvez seja difícil reconhecer que o tempo é a causa do nosso sofrimento ou de nossos problemas. Acreditamos que eles são causados por situações específicas em nossas vidas, e, de um ponto de vista convencional, isso é uma verdade. Mas enquanto não lidarmos com a disfunção básica da mente – o apego ao passado e ao futuro e a negação do presente –, os problemas apenas mudam de figura. Se todos os nossos problemas, ou causas identificadas de sofrimento ou infelicidade, fossem milagrosamente solucionados no dia de hoje, sem que nos tornássemos mais presentes e mais conscientes, logo nos veríamos com um outro conjunto de problemas ou causas de sofrimento semelhantes, como uma sombra que nos seguisse aonde quer que fôssemos. Em última análise, o único problema é a própria mente limitada pelo tempo.

Não posso acreditar que algum dia venha a alcançar 'um ponto onde eu esteja completamente livre de problemas.

Você tem razão. Você nunca poderá alcançar esse ponto porque você está nesse ponto agora. Não há salvação dentro do tempo. Você não pode se libertar no futuro. A presença é a chave para a liberdade. Portanto, você só pode ser livre agora.


Um comentário:

Tom disse...

É uma grande alegria sabermos que temos em nosso "plano terrestre" neste momento, pessoas como Eckhart Tolle.

Ele é um ser iluminado ajudando a milhares de outras centelhas em volta de todo o mundo a liberarem a sua luz interior!

Este livro é para mim como um remédio, quantas pessoas hoje não sofrem com estresse, síndrome do pânico, depressão, transtorno bipolar, deficit de atenção entre tantos outras disfunções, cuja cura se encontraria sem grandes dificuldades através do viver o agora, viver o agora é a libertação através do encontro com o Ser, superando qualquer visão doentia, viver o agora é encontrar-se com nossa que essência que é paz interior! Viver o agora é única forma de se viver completamente, totalmente!

Obrigado pela postagem!

Obrigado pelo blog!