"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, abril 03, 2013

A Instrução Silenciosa - 1/5

 
Ramana Maharshi


Discípulo: Quais são os sinais que nos permitem identificar um “GURU” ou MESTRE?

Mestre: O “Guru” é aquele que reside permanentemente nas profundezas insondáveis do Eu Real: jamais vê diferença alguma entre ele próprio e os outros, não é de modo algum obcecado por falsas noções de distinção como a de que seja o Iluminado (O “Jnani", isto é, o que realizou a Verdade) ou o Liberto (Mukta), enquanto os demais, ao seu redor, estão definhando na prisão ou imersos nas trevas cimérias da ignorância. Sua firmeza e serenidade são absolutamente inabaláveis. Nada o perturba.

Discípulo: Quais são as condições essenciais de um discípulo?

Mestre: Ele deve Ter o desejo intenso e incessante da libertar-se das misérias do mundo e alcançar a felicidade Suprema, a Bem-aventurança Espiritual. Não deve Ttr o mínimo desejo de mais coisa alguma.

Discípulo: Qual é o aspecto essencial da “Upadesa “que o Mestre dá ao discípulo?
 
Mestre: O termo “Upadesa” significa, literalmente, “reaproximar um objeto o mais possível do seu devido lugar”.

A mente do discípulo, ao diferenciar-se de seu estado original de Existência Pura, ou Eu Real, que as escrituras descrevem como “Sat-Chit-Ananda” (Existência-consciência-Felicidade), foge d’Ele e, assumindo a forma de pensamento, anda sempre à cata dos objetos de gozo dos sentidos. E, assim, é fustigada e arruinada pelas vicissitudes da vida, tornando-se fraca e medrosa. Por conseguinte, a “Upadesa” ou instrução espiritual consiste em o Mestre fazer a mente do discípulo voltar ao seu estado original e impedi-la efetivamente de fugir desse estado de absoluta identidade com o Eu Real (ou Essência Espiritual do Mestre).

O termo “Upadesa” também pode ser interpretado como sendo a ação de apresentar à visão anterior de uma pessoa, um objeto aparentemente longínquo, isto é, consiste, a “Upadesa”, em o Mestre mostrar ao discípulo aquilo que o discípulo considerava distante e diferente de si mesmo, a saber: o EU REAL, o ABSOLUTO.

Discípulo: Senão está implícito na afirmação acima, a Essência Espiritual do Mestre é inteiramente idêntica à do discípulo, porque as escrituras declaram categoricamente que o pesquisador, por maiores que sejam os seus conhecimentos, não pode atingir o despertar espiritual senão pela Graça do Mestre?

Mestre: É verdade que, no sentido espiritual, a Essência do Mestre é idêntica a do discípulo. Contudo, muito rara é a pessoa que pode realizar sua verdadeira Essência sem a Graça do Mestre. Nem a mera cultura livresca, por mais profunda a vasta, nem a prática de atos extraordinários, meritórios e aparentemente impossíveis habilitam ninguém a alcançar a verdadeira iluminação. Se perguntares a um tal erudito ou herói se ele se conhece a si mesmo, será forçado a reconhecer a sua ignorância. A não ser aos pés do Mestre ou em sua divina presença, é realmente impossível ao pesquisador entrar e permanecer naquele estado de Ser Puro, ou EU verdadeiro e original, em que a mente é dominada e todas as suas atividades cessam completamente. Por isso, foi dito que a Graça do Mestre é essencial ao Despertar Espiritual do Discípulo.

Discípulo: Qual é a natureza da Graça do Mestre?

Mestre: Está além do pensamento e da palavra.

Discípulo: Então, como se pode dizer que o discípulo realiza seu verdadeiro Ser pela Graça do Mestre?

Mestre: O caso é semelhante ao do elefante que desperta ao ver um leão em sonho. Assim como o aparecimento do leão é suficiente par acordá-lo, o vislumbre da Graça do Mestre também o é para despertar o discípulo do sono da ignorância para o Conhecimento do Real.

Discípulo: Que querem dizer as escrituras quando declaram que “O MESTRE” é realmente o Ser Supremo?
 
Mestre: Segundo as escrituras, em atenção ao aspirantes que buscam o verdadeiro Conhecimento e Iluminação, ou seja, a realização do Supremo, e que se devotam ao Senhor unicamente pelo desejo de alcançar sua Graça. Essa Divindade, que é realmente o Coração do Ser do aspirante e está sempre presente nele como Consciência pura, no momento adequado, em resposta a tal devoção, assume uma forma humana com três qualidades essenciais – “Sat-Chit-Ananda” (Existência-Conhecimento-Felicidade) que lhe aparece como Mestre. Além disso, as escrituras afirmam claramente que o Mestre, com a sua Graça, ajuda e capacita o discípulo a desprender-se totalmente de si mesmo e identificar-se com Ele (Mestre). Portanto, o Mestre deve ser reconhecido como o Ser Supremo.

Discípulo: Como é que, sem o auxílio do Mestre, alguns grandes sábios realizaram o Eu Verdadeiro?

Mestre: O Ser supremo, que reside dentro de cada indivíduo, pode, às vezes, revelar a Verdade a algumas almas maduras.

Discípulo: Qual é o fim e objetivo do Cominho da Devoção ou “Siddhânta Marga”?

Mestre: Compreender que o “Eu” é Deus e libertar-se do ego.

Discípulo:  O Caminho da Devoção e o Conhecimento levam ao mesmo objetivo?

Mestre: Sim.

Discípulo: Como?

Mestre: A meta comum a estes dois cominhos é a eliminação do ego e da possessividade, isto é, das idéias de “eu” e “meu”. Estas noções são interdependentes: desaparecendo uma a outra também desaparece. Para atingir-se o estado de Silêncio, que transcende a palavra e o pensamento, ou elimina-se o ego pelo Conhecimento, ou a possessividade pelo Caminho da Devoção. Qualquer deles é eficiente, pois a meta de ambos é a mesma.

NOTA: Enquanto o ego subsistir no devoto, este deve aceitar a existência do Supremo Senhor como guia de sua vida e conduta. Se o devoto deseja alcançar a meta suavemente, ou seja, a realização de sua identidade como o Supremo, em que o ego se perde complemente, então tem que se subordinar a Ele até que essa meta seja alcançada.

Discípulo: Que é ego?

Mestre: É simplesmente o “jiva” ou indivíduo, que se conhece a si mesmo sempre como “EU”, “eu”... A Consciência Pura não pode Ter a noção de “eu”, nem o corpo, que é insensível. Mas, entre a Consciência Pura e o corpo surge esse “jiva” ilusório, que é a raiz de todas as perturbações. Eliminai-o, por qualquer meio, e, então, o que restar brilhará como a Realidade sempre presente. Isto é a Libertação.
 
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