"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, março 09, 2014

Interpretação da Avatamsaka Sutra - 2/2


Masaharu Taniguchi


A SEDE DO BUDISMO

Por quem e onde foi pregada essa doutrina do mahayana? Vou explicar isso pela ótica da Seicho-No-Ie. Como já discorri na preleção do Kojiki (história e mitologia do Japão), o deus Hohodemi – filho do Sol – foi ao Ryugu (Palácio do Fundo do Mar), lá desposou a deusa Toyotama-hime, que então engravidou e, vindo à face da Terra, deu à luz ao deus Ugaya-fukiaezu. Para ir ao Ryugu, o deus Hohodemi embarcou no barco Menashi-katsuma (que transcende o tempo e o espaço), e isso significa que ele pregou no Ryugu o conteúdo da Avatamsaka Sutra. O Menashi-katsuma é um barco indestrutível e invulnerável, e simboliza a Verdade da Imagem Verdadeira do mahayana. Destarte, o budismo mahayana está sob a proteção da grande divindade do Ryugu, que é a divindade Sumiyoshi, e ele sempre existiu no mundo da Imagem Verdadeira. E a Seicho-No-Ie é o movimento em que a divindade Sumiyoshi se manifestou na atualidade, como Movimento de Iluminação da Humanidade.


UM MOMENTO SÃO TODOS OS MOMENTOS, E UM LOCAL SÃO TODOS OS LOCAIS

Para compreender como a Avatamsaka Sutra foi pregada inicialmente no Ryugu, é preciso, antes, compreender o que significam as Verdades tais como “um momento são todos os momentos”, “um local são todos os locais” e “um Buda são todos os Budas”, os quais transcendem o tempo e o espaço.

No mundo material visível aos nossos olhos carnais, “um local” é só um lugar, e “aqui” não é “acolá”. Isso quer dizer que o “Ryugu” não fica na “Índia”. Porém, no mundo da Imagem Verdadeira (Jissô) tudo pode acontecer concomitantemente. Inclusive na Avatamsaka Sutra, consta que toda ela foi pregada de uma só vez por Sakyamuni no décimo quatro dia após o seu despertar. Mais precisamente, Sakyamuni pregou, naquele dia, oito vezes, em oito localidades diferentes. Essas oito localidades não se limitam apenas à face da Terra. Oito (8) significa vários ou uma infinidade. A Avatamsaka Sutra diz que essas oito localidades foram as seguintes:

Primeiramente, Sakyamuni falou sob a árvore bodhi onde alcançara o despertar. Em seguida, fez pregação no palácio Fukô-Hodo. Depois, sucessivamente, no mundo celeste onde reside Tague-jizaiten. A sétima vez, voltou a pregar no Fukô-Hodo. E, por último, no mosteiro Guion-shôja, erigido no bosque Seitarin.

Acontece que, apesar de o mosteiro Guion-shôja ter sido construído seis anos após o despertar de Sakyamuni, este fez pregação nesse local no décimo quarto dia do seu despertar. Esse fato supõe que “uma pregação feita num dado momento” constitui várias pregações, em vários momentos, em várias localidades.

Como vimos, a Avatamsaka Sutra é constituída de uma infinidade de pregações feitas num só dia, em localidades diferentes.

Para os que não entendem a Verdade da “simultaneidade do tempo e do espaço”, isto é, a verdade de que “um momento são todos os momentos, e um local são todos os locais”, não existe nada mais absurdo do que a Avatamsaka Sutra. Para eles, não pode haver uma coisa tão estúpida: uma pessoa falar ao mesmo tempo em diferentes tempos e lugares, como se fosse um conto de fadas.

Vejamos, então, por que isso é possível. Quando Buda Vairocana central (Aquele que ilumina todo o Universo) faz pregação, a sua vibração é captada em todas as terras búdicas do Universo, e, assim, inúmeros Budas fazem a mesma pregação, ao mesmo tempo, no Universo todo. E, por conseguinte, reúnem-se inúmeros bodisatvas em suas respectivas terras búdicas, para ouvir a pregação de Buda.

Na foto da estátua do Grande Buda em Nara vimos, dentro de sua auréola, inúmeros Budas pequenos. Isso simboliza o fato de que, quando o Buda central faz pregação, inúmeros Budas do Universo fazem a mesma pregação, ao mesmo tempo, do mesmo modo, em suas respectivas terras búdicas; e, em cada um desses locais, se reúnem inúmeros bodisatvas para ouvir essa pregação. Em outras palavras, a pregação da Avatamsaka Sutra realizada no Ryugu (Palácio do Reino do Mar) por Hohodemi-no-mikoto (isto é, a vibração da pregação de Deus no mundo da Imagem Verdadeira) reflete-se no mundo fenomênico como pregação de Sakyamuni na Índia, como pregação de Jesus na Judeia, etc. Por isso, a fonte do cristianismo também está no mundo da Imagem Verdadeira. 

Avatamsaka Sutra, que é o grande ensinamento, foi pregada primeiramente no Ryugu, cujas primeira e segunda partes estão ocultas no tamatebako (caixa misteriosa que transcende o tempo e o espaço). Quando o tamatebako for aberto, será esclarecida a Imagem Verdadeira do mundo.


A MISSÃO DE BUDA

O dever de Buda é fazer pregação. Isso pode parecer estranho, mas inclusive segundo o cristianismo “tudo foi feito pela palavra (Verbo)” e o “Verbo é Deus”. No budismo, Sakyamuni, ao terminar a pregação da Sutra da Vida Imensurável, disse: “O que eu devia fazer, já está feito”.

O termo japonês “jobutsu” é formado de dois ideogramas. O ideograma “naru” (significa “tornar-se”) e o ideograma “hotoke” (significa Buda). Muitas pessoas pensam que “jobutsu” significa tornar-se Buda. Porém, se jobutsu significasse “tornar-se Buda”, deveríamos concluir que quem se torna Buda não é Buda, isto é, que alguém que não é Buda torna-se Buda. Porém, jobutsu é o fato de Buda vibrar e soar. Isso significa que todos somos Buda desde o princípio, mas ficamos calados e não soamos. Ficar calado não é jobutsu. Jobutsu é o fato de Buda entrar em vibração, soar e manifestar-se. Quando Ame-no-Minaka-Nashi-no-Kami (Deus Senhor do Centro do Universo) vibrou e soou, realizou-se o Mundo do Lótus (Imagem Verdadeira). Nós somos Buda desde o princípio, mas não parecemos Buda se ficamos calados, pois Buda não está soando (vibrando).

Na Sutra do Lótus, consta que Buda Dai-tsuchi-shô ficou sentado na posição de meditação no templo, durante dez ciclos (um ciclo significa quase infinitos anos), mas não se realizou como Buda. Mas ele é Buda desde o princípio. Um koan (questão do zen-budismo) pergunta por que aquele que é Buda desde o princípio não se realizou como Buda. A resposta é: “É ele que não se realizou como Buda”. Aquele que é Buda desde o princípio não se realiza como Buda porque não começa a vibrar e soar. É porque ainda não começou a pregar a Verdade. Somos Buda desde o princípio e realizamo-nos como Buda quando pronunciamos Namu-Amida-Butsu (A minha Vida retorna a Amida-Buda). Mesmo sendo Buda desde o princípio, a pessoa não se realizará como Buda se não começar a soar.


UM BUDA SÃO TODOS OS BUDAS

Como já disse anteriormente, quando um Buda entra em vibração, soa e prega a Verdade, os Budas de uma infinidade de mundos pregam a mesma Verdade. Na Avatamsaka Sutra, está escrito o seguinte: “Nesse momento, Sakyamuni emitiu dez bilhões de luzes e iluminou centenas de bilhões de locais terrenos e celestiais de um trilhão de mundos, e manifestaram-se todas as coisas desses mundos todos. Buda está sentado no trono de lótus, e uma infinidade de bodisatvas de dez mundos búdicos se postam em torno dele, o mesmo ocorrendo também em dez bilhões de mundos.”

“O mesmo ocorrendo também em dez bilhões de mundos” quer dizer que existem dez bilhões de mundos semelhantes ao globo terrestre, e que em todos esses mundos também está Buda fazendo a mesma pregação.

A estátua do Grande Buda no Templo Todai-ji, em Nara, está assentada no trono da flor de lótus, e cada uma de suas pétalas representa um dos mundos búdicos. Olhando de perto, vemos linhas horizontais, as quais representam as linhas limítrofes entre os vários mundos celestiais e humanos. E, em cada um desses mundos celestiais e humanos, isto é, em cada pétala, está esculpida a imagem de Buda. Isso representa o fato de que, quando o Grande Buda central prega a Verdade, os Budas de todo o Universo pregam a mesma Verdade, ao mesmo tempo.

A Avatamsaka Sutra diz, mais adiante:

“Nesse momento, Sakyamuni, usando seu poder sobrenatural, está sentado sob a respectiva árvore do despertar de cada uma das inúmeras terras búdicas de todo o Universo, sem exceção. Os inúmeros bodisatvas, recebendo cada um o poder sobrenatural de Buda, pregam variadas Verdades, e todos eles pensam que estão juntos a Buda. Nesse momento, Sakyamuni, pelo seu poder sobrenatural, sobe ao pico Shumisen (a montanha mais alta do mundo búdico, onde residem as mais altas divindades) sem sair de seu lugar e se dirige ao palácio Taishaku-ten (a divindade protetora do mundo espiritual, que fica no topo do Shumisen)."

Como vimos, Sakyamuni, sentado sob a árvore do despertar, sem sair de seu lugar, subiu ao topo do Shumisen e se dirigiu ao palácio Taishaku-den. É como se nós, sentados aqui, no auditório do andar térreo, estivéssemos ao mesmo tempo no topo do prédio. Isso parece um conto de fada bobo, mas não é.

Já foi dito que, quando Buda principal e central faz pregação, manifesta-se uma infinidade de Budas em todos os mundos do Universo, fazendo a mesma pregação. Quando se compreende esse fato, compreende-se também que não há nada de estranho no fato de Sakyamuni pregar sobre o conteúdo da Avatamsaka Sutra que deus Hohodemi pregou no Ryugu. E também não é nada estranho que Jesus tenha aparecido na Judeia e pregado, nos campos da Galileia, a mesma Verdade contida na Avatamsaka Sutra. Do mesmo modo, não é estranho que o bodisatva Nargajuna tenha trazido do Ryugu e traduzido a Avatamsaka Sutra.

Bem, conforme eu disse anteriormente, o mundo do Jissô (Imagem Verdadeira) – Takaamahara (mundo de Deus, em termos xintoístas) – é um mundo infinitamente belo e majestoso, e não um mundo vazio. Quando se fala em Jissô, muitos budistas pensam que “Jissô é vazio”, que “vazio é o Jissô”. O mundo da Imagem Verdadeira é o mundo Avatamsaka, é o majestoso mundo da flor de lótus. E a Seicho-No-Ie diz que ele é um mundo infinito-dimensional. Todavia, o tamatebako do mundo Ryugu ainda não pode ser totalmente aberto.

Cont...

Do livro “A Verdade da Vida, vol. 39”, pp. 167-175 

2 comentários:

Silvano disse...

Gugu, meu divino Amigo

Foi dito:

"Em outras palavras, a pregação da Avatamsaka Sutra realizada no Ryugu (Palácio do Reino do Mar) por Hohodemi-no-mikoto (isto é, a vibração da pregação de Deus no mundo da Imagem Verdadeira) reflete-se no mundo fenomênico como pregação de Sakyamuni na Índia, como pregação de Jesus na Judeia, etc. Por isso, a fonte do cristianismo também está no mundo da Imagem Verdadeira.

A Avatamsaka Sutra, que é o grande ensinamento, foi pregada primeiramente no Ryugu, cujas primeira e segunda partes estão ocultas no tamatebako (caixa misteriosa que transcende o tempo e o espaço). Quando o tamatebako for aberto, será esclarecida a Imagem Verdadeira do mundo."
O que se segue é um comentário sobre tema complexo, que somente poderá ser completamente assimilado em estado de receptividade e em profundo silêncio interior, sem questionamentos a respeito, numa ambiência adequada como num círculo de estudos ou numa mesa redonda, com a presença ou sob a orientação de algum escrito de um personagem desperto, ocasião em que as condições estarão presentes para que possa ser assimilado por todos.

A (doutrina) pregação de Buda sobre o grande veículo (Mahayana) corresponde à grande verdade, que em termos da linguagem usada no Núcleo corresponde à revelação da Realidade [Dimensão Consciencial, Mar Ryugu, Mundo da Imagem Verdadeira, Jissô, Nyo etc] e está acontecendo na dimensão atemporal do eterno Agora, algo que não pode ser compreendido pela mente dos personagens, porque esta cinde a realidade apreensível em "passado, presente e futuro"; "aqui e lá"; "eu e o outro".

Por isso, pela forma com que a mente apreende, a Realidade não pode ser apreendida pela mente. Assim, do ponto de vista da mente é impossível apreender a revelação de que "UM MOMENTO SÃO TODOS OS MOMENTOS, E UM LOCAL SÃO TODOS OS LOCAIS; e que UM BUDA SÃO TODOS OS BUDAS".

Parafraseando o que foi dito... "Em outras palavras, a pregação da Avatamsaka Sutra realizada no Ryugu (Palácio do Reino do Mar) por Hohodemi-no-mikoto (isto é, a vibração da pregação de Deus no mundo da Imagem Verdadeira) reflete-se no mundo fenomênico como pregação de Sakyamuni na Índia, como pregação de Jesus na Judeia; e por estar acontecendo na dimensão atemporal do eterno Agora, reflete-se também e concomitantemente às demais pregações de todos os Budas, como o ensinamento que está sendo compartilhado no Núcleo, por ser esse o ensinamento do "Núcleo", Fonte ou Origem.

Silvano disse...

Vale enfatizar que o o ensinamento que está sendo compartilhado no Núcleo não é focado em nenhum personagem específico, mas sim, em uma percepção! Esta percepção, que é a percepção da Consciência do Ser e não a percepção da mente de algum personagem específico, está sendo compartilhada "Agora"! E está sendo compartilhada por todos os Budas e em todos os mundos! É por assim dizer a reverberação da pregação de Buda sobre o grande veículo, que está acontecendo Agora no Palácio Ryugu! Na "representação" [realidade percebida pela mente] esta pregação aparece como o ensinamento do Núcleo. A "representação" tem muitas versões de tempo, espaço e personagens [que só existem na própria representação e em suas muitas "versões"]. Assim, na representação esta pregação aparece no tempo e local de Jesus como o "ensinamento cristão"; Da mesma forma, na representação, aparece no tempo e local de Sakyamuni e de cada um dos demais Budas, como o "ensinamento budista"; Da mesma forma, na representação, aparece no tempo e local de Krishna e de cada um dos demais Avatares, como o "ensinamento védico".

Todos estes ensinamentos divinos são ensinamentos da Fonte do Ser Único, ou seja, são ensinamentos do "Núcleo"; Portanto todos são "ensinamentos nucleares"! São percepções da Consciência do Ser compartilhadas por aqueles que aparecem na representação como "personagens despertos", personagens conscientes de que a a real identidade de todos os seres é o Ser Único! Assim como a Luz do Sol projetada sobre um prisma "aparecem como" cores distintas umas das outras, os personagens despertos são conscientes de que eles são projeções do Ser Real que na "representação" aparecem como" personagens distintos uns dos outros, com linguagens e ensinamentos aparentemente distintos uns dos outros, mas que são na verdade "ensinamentos da Fonte", ensinamentos sobre a Fonte ou Realidade do Ser.

É o que percebo, desfruto e compartilho.

Namastê!