"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, setembro 01, 2016

O "mundo mental" antecede o "mundo das formas" - 1/2

- Masaharu Taniguchi -


Tenho diante de mim, um ramo de dália escarlate, e vou desenvolver a partir dele o meu tema de hoje.

A raiz desta flor é um tubérculo com o formato semelhante ao de uma batata. À primeira análise, parece impossível que dentro dessa batata "já existia" a bela flor de dália. Mas se assim não fosse, como explicar o fato de que, plantando essa batata, desabrocha infalivelmente a flor de dália, e não rosas ou margaridas? Se surgisse ora um tipo de flor, ora outro tipo, arbitrariamente, não poderíamos dizer que "a bela flor de dália existe, desde o princípio, dentro de sua raiz". Mas o fato é que de um mesmo tipo de tubérculo surge sempre o mesmo tipo de folha e flor... Portanto, devemos admitir que dentro do tubérculo de dália "já existem" as folhas e as flores de dália, as quais se "expandem" e se manifestam neste mundo fenomênico.

Porém, mesmo cortando pedaços de tubérculos de dálias de diferentes cores e examinando ao microscópio os componentes celulares de cada um, não encontramos nada que distinga o tubérculo de dália de uma cor dos de outras cores. Em outras palavras, o exame microscópico das "células materiais" de um tubérculo de dália não nos possibilita localizar algo que indique claramente qual a cor dessa dália, qual o formato de sua folha, qual o formato de sua flor, etc. Chegamos, então, à conclusão de que, num plano "mais remoto que a estrutura material" desse tubérculo, existe o "desenho original" de dália, com seu formato, sua cor, etc., e que essa flor manifesta-se concretamente no mundo das formas quando há condições propícias para isso.

Esta dália que está aqui, diante de mim, é vermelha. E enquanto este ramo estiver vivo, seus botões desabrocharão como belas dálias vermelhas (e não de outras cores). Este ramo de dália foi cortado e está colocado num vaso. Ainda assim, seus botões se desenvolvem e desabrocham como belas dálias vermelhas. Pormos pensar, então, que o elemento que dá a cor vermelha a esta flor poderia estar contido em seu caule, e não em seu tubérculo. Porém, mesmo que cortemos um pedaço de seu caule e o examinemos ao microscópio, não podemos detectar o fator que lhe dá a cor vermelha. Concluímos, então, o seguinte: as substâncias nutritivas que esta dália absorve, seja através de seu tubérculo ou de seu caule, são transformadas em flor vermelha. E assim será quanto houver Vida nesta flor.

Não é o tubérculo ou o caule que produz a cor vermelha. No "mundo imaterial" estão os "arquétipos" (desenhos originais) de todas as coisas, os quais surgem naturalmente neste mundo das formas. Esses "arquétipos" já existentes no "mundo imaterial" são formados a partir daquilo que eu costumo chamar de "mente da tendência". Não se trata de "subconsciente" mencionado frequentemente pelos psicólogos. Muitos dos fatos vivenciados por um indivíduo desde o momento de seu nascimento ficam  registrados no fundo de sua memória, vindo à tona apenas de vez em quando. Na Psicologia, dá-se a isso o nome de "subconsciente", em contraposição ao "consciente", que está sempre à tona e em atividade, permitindo ao indivíduo pensar e agir. Mas, dentro da mente de cada indivíduo, num lugar bem mais profundo do que a camada subconsciente que retém os fatos registrados em sua memória desde que ele nasceu, existe o que podemos chamar de "mente da tendência" (mente que age segundo suas tendências e/ou hábitos), a qual já vinha trabalhando antes mesmo de seu nascimento neste mundo.

Através dessa mente é que o embrião, apesar de ainda não ter a inteligência desenvolvida, consegue "desenhar" e "construir" o seu próprio corpo. O termo "subconsciente", empregado na Psicologia, não serve para exprimir essa "mente" ou "consciência". O recém-nascido, por exemplo, começa logo a respirar e a sugar o leite do seio que a mãe lhe oferece, sem que alguém o instrua sobre a necessidade de respirar e mamar. Tais "conhecimentos" não são registrados pelo subconsciente após o nascimento do indivíduo. Toda pessoa nasce sabendo essas coisas porque antes mesmo de vir a este mundo já possuía a "mente que trabalha segundo determinada tendência ou determinado hábito". Na Seicho-No-Ie, afirma-se que as doenças são provocadas pela "mente". Cabe, aqui, esclarecer que o causador da doença tanto pode ser a "mente subconsciente" que registra os fatos vivenciados pelo indivíduo após o nascimento, como a "consciência anterior ao nascimento". 

Em se tratando de uma flor (a dália, por exemplo), é essa "consciência" que cria o formato e a cor com que ela irá surgir neste mundo. Obviamente, esta flor de dália veio de sua semente ou de seu tubérculo. Lembremo-nos, porém, que já houve tempo em que a temperatura da Terra era altíssima, não permitindo a existência de plantas de espécie alguma. Portanto, naquela época não existia na Terra nenhuma espécie de semente ou de tubérculo. Se mais tarde surgiram as sementes, os tubérculos, etc., só pode ser porque o "desenho" ou o "projeto" desses vegetais já existia no mundo da "mente" (mundo imaterial). Esta dália vermelha que está diante de mim é simplesmente a concretização do "desenho" ou "projeto" que já existia no mundo da "mente" antes mesmo do surgimento de sua semente ou de seu tubérculo, antes mesmo do tempo em que a Terra era tão quente que não permitia o surgimento de planta alguma.

As imagens cinematográficas passam a existir já no momento em que são filmadas, e não quando são projetadas na tela. Em outras palavras, as imagens ou cenas já estão no filme, e aparecem aos nossos olhos quando há condições apropriadas para isso. O mesmo acontece com todas as coisas. Esta flor de dália, por exemplo, existia desde o princípio no "mundo imaterial". Tendo encontrado condições apropriadas, ela surgiu neste mundo, da mesma forma que a imagem cinematográfica aparece na tela quando há condições para tal. Assim é o trabalho da "mente da tendência". 

Não encontramos, na Psicologia, um termo adequado para designá-la. Talvez possamos chama-la de "subconsciente em sentido lato". O fato é que o aspecto e estados materiais ou carnais de todas as coisas que surgem neste mundo material são a concretização daquilo que foi criado primeiramente no mundo imaterial.

Também nosso destino, seja ele feliz ou infeliz, é formado no mundo da mente antes de se manifestar concretamente no mundo das formas. Por assim dizer, as imagens já filmadas no mundo da mente é que aparecem mais tarde no mundo real. Eis por que, em certos casos, é possível ter, no sonho ou durante uma concentração espiritual, a visão antecipada de uma cena que vai acontecer na vida real. 

Certa vez, um homem teve o seguinte pesadelo: Estava consertando um moinho d'água, quando se desequilibrou, foi apanhado pelo moinho e se feriu gravemente numa das pernas, a qual precisou ser amputada. Muito impressionado com o sonho, ele prometeu a si mesmo que nesse dia não faria consertos de espécie alguma, e resolveu não aparecer na fábrica onde trabalhava. Por precaução foi se esconder num bosque que ficava atrás do moinho. Chegando lá, avistou um ladrão tentando roubar a madeira cortada, e passou a persegui-lo. Na ânsia de agarrá-lo, esqueceu-se completamente do sonho e acabou voltando para a fábrica. assim que lá chegou, o dono da fábrica ordenou-lhe que fizesse um pequeno conserto no moinho de água. Lembrando-se do pesadelo, o homem sentiu medo, mas não havia como se esquivar de fazer esse conserto. Assim, começou a trabalhar com a máxima cautela. Mas, apesar de todos os cuidados, acabou sendo apanhado pelo moinho e sofreu o esmagamento de uma das pernas, a qual acabou sendo amputada. Tudo aconteceu exatamente como no pesadelo que tivera. Esse homem viu antecipadamente no sonho as cenas do acidente que iria sofrer, porque tudo aquilo já havia acontecido no "mundo da mente". 

Conta-se, também, que uma pessoa sonhou que seu filhinho fora atropelado por um bonde, e passou a vigiá-lo bem para que isso não acontecesse, mas no fim a criança acabou sendo realmente atropelada, num breve espaço de tempo em que a mãe se distraiu. Por que será que, às vezes, as coisas acontecem exatamente como foram vistas com antecipação, no plano "mental"? É que toda ideia formada no mundo da "mente" – isto é, no mundo imaterial – manifesta-se concretamente no mundo real. Tudo que acontece em nossa vida é concretização das imagens e formas criadas no mundo imaterial, a partir de um elemento, também imaterial, chamado "mente". 

Recentemente, o sr. Nagakami, um conhecido meu, esteve contando o caso da morte de seu filhinho. Disse ele que, inconformado com a morte aparentemente "repentina" de seu filho, ficou pensando por que teria ele tido morte tão prematura. Foi nessa ocasião que surgiu a necessidade de ele ir a uma certa livraria onde se vendiam livros usados. Chegando lá, reparou que numa das prateleiras encontrava-se um volume da colação A Verdade da Vida editado poucos dias antes. Como o sr. Nagakami trabalhava na distribuidora desse livro, achou estranho o fato daquele volume estar colocado à venda num sebo somente alguns dias depois de ser editado, e resolveu comprá-lo. Quando chegou em casa e ia abrir o livro, reparou que havia um marcador numa das páginas. Abrindo o livro nessa página, ele constatou com espanto que havia ali uma explicação sobre a morte de crianças, dizendo: "O que tem de acontecer já está preparado de antemão para esse fim." 

Aí, lembrou-se de um fato ocorrido dois ou três dias antes da morte de seu filhinho: como o tempo havia esquentado muito e a criança estava com os cabelos bastante crescidos, o sr. Nagakami levou-a a um barbeiro. Depois que terminou de cortar o cabelo do pequenino, o barbeiro embrulhou uma mecha de papel de seda e entregou-a ao sr. Nagakami, dizendo: "Já que foi a primeira vez que o seu filhinho cortou o cabelo, leve essa mecha e guarde-a como lembrança". Dias depois, o pequenino morria, e essa mecha de cabelo ficou sendo uma lembrança de seu filho. Como vemos, antes mesmo de ocorrer a morte daquela criança no mundo material, já estavam prontos os "preparativos" para isso. Assim, ficamos sabendo que, como sempre, manifestou-se no mundo das formas aquilo que certamente já existia no "mundo da mente". O que não está formado no mundo da mente jamais se manifesta concretamente. Somente as coisas formadas no mundo da "mente" manifestam-se no mundo das formas. Eis por que todos nós devemos nos esforçar no sentido de formar boas coisas no mundo da mente.


Do livro, "A Verdade da Vida, vol. 29", pp. 87-94

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