"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, abril 03, 2018

O Desejo de Sensação

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- OSHO - 

Destrua o desejo de sensação.

...Aprenda a partir da sensação e observe-a, pois somente assim você poderá se iniciar na ciência do autoconhecimento e galgar o primeiro degrau da escada.

"Destrua o desejo de sensação."

Vivemos em busca de sensações, ansiamos por sensações. Estamos sempre à procura de sensações cada vez mais novas; toda a nossa vida é um esforço para obter novas sensações. Mas o que acontece? Quanto mais sensações você busca, menos sensível você se torna. A sensibilidade é perdida.

Parece paradoxal. Nas sensações, a sensibilidade é perdida. Então você necessita de mais sensações, e esse “mais” aniquila cada vez mais a sua sensibilidade. Então você necessita de mais ainda e, finalmente, chega um momento em que todos os seus sentidos ficam embotados e mortos. O homem nunca foi tão insensível e morto quanto nos dias atuais. Antigamente, o homem era mais vivo, porque não havia tantas possibilidades de usufruir tantas sensações. Mas agora a ciência, o progresso, a civilização, a educação criaram inúmeras oportunidades de se penetrar cada vez mais no mundo da sensação. E no final, você se torna uma pessoa morta; sua sensibilidade está perdida. Saboreie mais comidas – com mais temperos, mais picantes – e seu paladar se perderá. Se você andar pelo mundo sempre à procura de coisas cada vez mais bonitas, acabará cego; a sensibilidade de seus olhos se perderá.

Mude diariamente o objeto de seu amor – sua namorada ou namorado, sua esposa ou marido. Se muda-los a cada dia, sua sensibilidade para amar morrerá. Você estará se movendo num terreno perigoso. Nunca irá fundo; permanecerá apenas na superfície, na periferia. Quanto mais coisas você experimentar, menor se tornará a sua capacidade de experimentar. E então, finalmente, quando todas as coisas ao seu redor estiverem mortas, você desejará o divino, a bem-aventurança, a verdade. Mas um homem morto não pode experimentar o divino. Para experimentar o divino, você precisa de total sensibilidade; precisa estar vivo. Lembre-se: apenas o semelhante pode atrair o semelhante.

Se você quer o divino – o “divino” significa o mais vivo, o sempre-vivo, sempre-jovem, sempre-verde –, se você quer encontrar o divino, precisará estar mais vivo. Como fazer isso? Destrua todo desejo de sensação. Não busque a sensação; busque a sensibilidade, torne-se mais sensível.

Essas duas coisas são diferentes. Se você procura sensações, procurará coisas; acumulará coisas. Mas, se procura a sensibilidade, todo o trabalho deverá ser feito em seus sentidos, não nas coisas. Você não precisará acumular coisas. Você terá que aprofundar seus sentimentos, seu coração, seus olhos, seus ouvidos, seu nariz. Cada sentido deverá ser intensificado de tal modo que se torne capaz de sentir o sutil. Não podemos nem sentir o grosseiro e precisamos nos tornar capazes de sentir o sutil. O mundo parece grosseiro apenas porque não podemos sentir o sutil. O invisível oculta-se no visível. Olhe para essas árvores. Você olha para o grosseiro; o corpo da árvore. Você nunca olha, nunca sente a vida interior. O crescimento! A árvore em si mesma não está crescendo; a árvore é apenas um corpo. Uma outra coisa – o invisível – está crescendo nela. E por causa disso, a árvore cresce. O interior está crescendo e, por causa dele, o exterior está crescendo. Mas você olha apenas para a árvore, e assim, só o exterior é visto.

Olhe ao seu redor. Olhe dentro dos olhos do seu amigo. Você apenas olha para os olhos, não para aquele que vê através deles. Toque o corpo de seu amigo. Você apenas toca o grosseiro; nunca sente o sutil interno. Apenas o corpo, o externo é sentido, pois seus olhos (seus sentidos) ficaram tão embotados que não podem sentir o interno, o invisível.

Precisamos de mais sensibilidade. Busque menos sensação e cresça em sensibilidade. Quanto tocar; torne-se o toque. Quando olhar, torne-se os olhos. Quando ouvir, deixe que toda a sua consciência venha aos ouvidos. Ao ouvir uma música, ao escutar os pássaros, torne-se os ouvidos. Esqueça tudo o mais, como se você fosse apenas os ouvidos. Vá para os ouvidos com todo o seu ser. Então, seus ouvidos tornar-se-ão mais sensíveis.

Quando estiver olhando para alguma coisa – uma flor, um belo rosto ou as estrelas – torne-se os olhos. Esqueça tudo o mais, como se o restante de seu corpo tivesse cessado de existir e sua consciência tivesse se transformado apenas em olhos. Então, seus olhos serão capazes de olhar mais profundamente e você será capaz de olhar também para o invisível. O invisível também pode ser visto, mas você precisa de olhos mais penetrantes para vê-lo.

Destrua todo o desejo de sensação e cresça em sensibilidade. Preocupe-se menos com o mundo e mais com seus sentidos. Purifique-os. Quando você não busca sensações, seus sentidos se purificam. Ao desejar cada vez mais sensações, estará destruindo seus sentidos.

O homem que descobre o divino é aquele cujos sentidos estão totalmente vivos, em sua capacidade máxima. Então, você não apenas pode ver o divino, mas também pode prová-lo, pode cheirá-lo. O divino pode entrar em você através de qualquer um dos sentidos. Só quando o divino penetrar em você por todos os sentidos, acontecerá a realização suprema. Se você pode apenas ver o divino, trata-se apenas de uma realização parcial. Neste caso, você não está realmente iluminado. Se você não pode tocar o divino, se não pode prová-lo, você está apenas parcialmente iluminado.

O uso dessas palavras parece ilógico. Saborear Deus? Ele é um alimento? Sim, ele é tudo. Você pode saboreá-lo, mas para isso necessita de uma capacidade muito sutil. Seu alimento simples tornar-se-á divino. Através do alimento, o divino será sentido. Os rishis upanishádicos disseram que o alimento é brahma. “Anna é brahma.” Eles devem tê-lo saboreado, devem tê-lo comido.

Nós pensamos que Deus é um problema lógico; assim, continuamos a questionar quanto a isso, a favor ou contra. Continuamos a discutir se Deus existe ou não. Isso é irrelevante. Deus não é uma questão de argumento, de lógica, de raciocínio. Na verdade, Deus é uma questão de sensibilidade. Se você não o sente, torne-se mais sensível. Nenhum pensamento lógico será de qualquer ajuda. Torne-se mais sensível! Se você é sensível, ele está aí. Ele sempre esteve aí, mas você não é sensível. As coisas o tornam entorpecido, as sensações o tornam entorpecido. Destrua todo desejo de sensação.

"Destrua o desejo de crescimento."

Este sutra é muito revolucionário, muito perigoso.

Destrua o desejo de crescimento. Parece absurdo, pois se você destruir todo o desejo de crescimento, que necessidade haverá então de crescer para o divino? Como alguém poderá então alcançar a verdade, tornar-se iluminado? De que servirá a meditação e todo este rebuliço? Precisamos mergulhar profundamente neste sutra.

Destrua o desejo de crescimento. Há dois tipos de crescimento. Um, a respeito do qual você pode fazer algo; e outro, a respeito do qual você nada pode fazer. Para um, seu esforço é necessário; para o outro, a ausência de esforço é necessária.

O crescimento espiritual é do segundo tipo. Seu esforço não será de nenhuma ajuda; apenas criará barreiras. Você nada pode fazer quanto ao crescimento espiritual. A única coisa que você pode fazer é entregar-se, e isso é um não-fazer. Você pode apenas fazer uma coisa: permitir que o divino aja em seu interior. Pode simplesmente cooperar; isso é tudo. Pode simplesmente flutuar, não é necessário nadar – apenas um profundo deixar acontecer. É este o significado de Destrua o desejo de crescimento.

"... Cresça como cresce a flor, inconscientemente, mas ansiosamente desejosa de abrir sua alma ao ar. Assim você também deve compelir sua alma para se abrir ao eterno."

Mas é necessário que seja o eterno!

Mas deve ser o eterno quem induz sua força e beleza a se expandirem, não o desejo de crescimento. Pois, no primeiro caso, você se desenvolve na exuberância da pureza, e no outro, você se torna insensível pela paixão impetuosa pelo desenvolvimento pessoal.

Repetirei: Mas deve ser o eterno quem induz sua força e beleza a se expandirem, não o desejo de crescimento – porque todo desejo é um obstáculo, até mesmo o desejo de alcançar o divino; todo desejo é uma escravidão, mesmo o desejo de ser libertado. O desejo, como tal, é o problema; portanto você não pode desejar o divino. Isso é contraditório. Você só pode desejar o mundo, não pode desejar o divino; porque o desejo é o mundo, o desejo é sansara. Você não pode desejar moksha. Quando você está num estado de não-desejo, moksha­­­­ acontece a você; quando você está num estado de ausência de desejo, a liberação acontece a você, o divino acontece a você.

Permita que o divino gere tudo o que está oculto em você. Não busque o crescimento. Entregue-se, para que o crescimento aconteça. O crescimento ocorrerá, mas não através de seu esforço, e sim, de sua própria graça. Virá por intermédio dele mesmo.

Há razões para que seja assim.

O que for que você fizer, nunca será maior do que você. Não pode ser. Qualquer coisa que você fizer será sempre menor do que você. O agente é sempre superior ao ato. O contrário não é possível. O pintor é superior à sua pintura, o meditador é superior à sua meditação. Tudo o que você fizer será sempre inferior a você; portanto, como você poderá alcançar o divino? O divino não é inferior a você, assim, você não pode alcançá-lo. Se você pudesse alcançar Deus por seus próprios esforços, esse Deus seria inferior a você, não superior; esse Deus não passaria de um objeto utilizável – algo que você seguraria em suas mãos, algo que você teria conquistado. Assim sendo, lembre-se, Deus não pode ser alcançado através de seus esforços. Deus pode acontecer a você, mas não se trata de uma conquista.

Assim sendo, o que pode ser feito? O que você pode fazer por seu lado? Você precisa fazer apenas um esforço negativo. Esse esforço negativo significa: não criar barreiras, não criar obstáculos. Permanecer aberto, esperando, e pronto a se mover, pronto a ir. Se o ímã começar a agir, você permitirá que ele aja.

Dessa maneira, qual a função da meditação que eu tanto enfatizo? Ela serve apenas para destruir suas barreiras; é um esforço negativo. Através da meditação você não alcançará o divino. Através da meditação você se tornará acessível à ação do divino. Através da meditação, você se tornará aberto; sua prece chegará até ele. Você estará dizendo que está pronto, que, a partir de agora, cooperará.

Isso é tudo o que é necessário de sua parte. Permitir, deixar acontecer, entregar-se. Através da vontade, nada pode ser feito. Na dimensão do divino, nada pode ser feito através da vontade; somente através da entrega. E então tudo acontece.

Através das meditações que estamos fazendo aqui, você está apenas derrubando suas barreiras. É por isso que enfatizo que você deveria ser como as crianças. Volte a ser criança. Esqueça sua civilização, sua cultura, seus modos, suas posturas, sua personalidade, suas faces. Tudo isso é uma fachada. Jogue-a fora! Torne-se como as criancinhas.

Parecerá loucura. Abandonar sua mente e retornar à sua infância parecerá loucura. Pois seja louco! Seja qual for o preço, seja novamente como as crianças. Jesus diz que somente aqueles que são como crianças entrarão no reino do meu Deus. Eu também digo o mesmo. Retorne ao ponto onde a civilização começou a corrompê-lo, ao ponto onde a educação começou a corrompê-lo, ao ponto onde a sociedade penetrou em você. Volte ao ponto onde você era não-social, onde não havia sociedade coagindo você. Até esse ponto você era inocente e puro e, a menos que retorne novamente até esse ponto, as barreiras permanecerão.

Torne-se criança novamente. Durante esse processo, você sentirá que enlouqueceu, pois estará jogando fora todos os seus valores de adulto: educação, cultura, religião, escrituras, comportamentos. Estará jogando tudo fora. Estará retornando ao ponto onde você era você mesmo, onde ainda nenhuma sociedade o havia corrompido.

O processo todo parecerá loucura, mas não é. É uma catarse. E se você puder atravessá-la, sairá mais são, menos louco. A loucura será jogada fora. Você se tornará mais puro, mais são.


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